M.C. Escher, Day and Night, 1938

 

Escher nos acena do futuro

 

 

 

Dizem que no pórtico de entrada

da academia platônica havia a inscrição:

“Não entre quem não souber geometria”.

Se Escher tivesse vivido na Grécia Antiga,

Platão, talvez, mudasse o seu aviso para algo do tipo:

“Não entre quem não souber a geometria

dos homens de sã consciência”.

 

 

 

Maurits Cornelis Escher (1898-1972) poderia ser só mais um grande artista holandês, como tantos outros, cujos trabalhos arrebantam multidões. Mas sua arte tem algo mais, algo que insiste em nos acenar do futuro. Filho de um engenheiro civil, Escher não suportou a solidez do curso de arquitetura e desencaminhou-se para a vida errante e rarefeita de artista. Tal guinada não o impediu, porém, de ser tornar um grande geômetra e um arquiteto extraordinário, precursor, talvez, da arquitetura de geometrias não euclidianas (que incluem, de bom grado, a redução ao absurdo e a regressão ao infinito).

 

Mestre da ilusão de ótica, suas gravuras desafiam nosso olhar e nos lançam numa viagem onírica que faz da geometria uma estrada para o surrealismo e o pensamento mágico. Assim como o romance O processo, de Franz Kafka, a obra de Escher faz com que realidade e ilusão pertençam a espaços contíguos; é a imagem de Josef K desbravando portas, dentro de cortiços, que levam a imponentes palácios.

 

Dizem que no pórtico de entrada da academia platônica havia a inscrição: “Não entre quem não souber geometria”. Se Escher tivesse vivido na Grécia Antiga, Platão, talvez, mudasse o seu aviso para algo do tipo: “Não entre quem não souber a geometria dos homens de sã consciência”. Escher era um visionário errante e delirante, e de artistas assim, na Grécia Antiga, já bastavam, para Platão, os seguidores de Homero.

 

No mais, acredite! Escher anteviu e foi pioneiro até das famigeradasselfies.

 

Ricardo H. Rodrigues, intervenção sobre Hand with Reflecting Sphere, de M.C. Escher, 2017

 


 

São Paulo, 12 de março de 2017