Anderson Santos na Interzona |

O sorriso, 100x70cm, óleo sobre tela, 2012 |
Interzona: Baudelaire considerava a indústria fotográfica o refúgio de todos os pintores fracassados, “sem talento ou preguiçosos demais para concluírem seus esboços”. A fotografia seria, para ele, a serva da pintura, ela simplesmente reproduzia tudo que a pintura havia feito. No entanto, a pintura, desde Degas, faz cada vez mais uso da fotografia, de seus enquadramentos, de sua textura etc. A coisa se inverteu? A pintura é atualmente serva da fotografia? Ou finalmente esses dois meios de expressão estão se fundindo? Ambos são, afinal de contas, artes visuais.
Anderson Santos: Creio que na época de Baudelaire o que a indústria fotográfica representava para a pintura era diverso do que ela representa agora, consumimos fotografia todo o tempo, todos possuem uma maneira de capturar um momento, seja com celulares ou maquinas fotográficas portáteis, e isso modifica não só a pintura, mas também o modo como olhamos o mundo. Sinceramente, não acredito numa pintura que seja serva da fotografia e também não creio que essas duas "escolas" estejam se fundindo. Creio que a pintura ainda é fonte para pensar a fotografia, bem como o cinema, que é filho da fotografia. O problema não é se pintura e fotografia são artes visuais, mas o que em fotografia e pintura ainda pode ser considerado ou chamado de arte. O que ainda hoje seria capaz de alterar profundamente nossos sentidos e assim ser chamado de arte.

Paisagem#7, óleo s/tela, 20x30cm, 2008 (coleção Fundação Rômulo Maiorama, Pará). |
Interzona: Se há uma “pintura fotográfica”, haveria, portanto, uma escolha de um instante a ser registrado? O que há nesse instante que o interessa? É sempre uma situação casual, repentina, nova ou há interesses preconcebidos que guiam a atenção. Em outras palavras, haveria um projeto, um campo explícito de interesses ou forças, algo consciente que determina o olhar?
Anderson Santos: Não existe em meu trabalho uma pintura fotográfica. Faço uma pintura realista. Faço uso da fotografia como Vermeer e outros se utilizavam da câmara escura, como ponto de partida, o resto é acréscimo, construção e manipulação. É trabalho de mão e cérebro e olho e xícaras de café. Interessa-me o corpo feminino, os cães, a ideia de trânsito e repouso e atualmente mapas antigos, esse é o meu campo de estudos atual. Se há uma ideia que me interessa, trato de compreender como transmuta-la em pintura. Se já tenho uma fotografia de um modelo que me sirva, ótimo, se não, arrumo um modelo e fotografo esse modelo. Depois de resolvida essa etapa, parto para a tela, olho para a fotografia e pinto, sem desenho ou coisa que me sirva de apoio. O que me interessa nesse ponto é quanto posso colocar ou tirar dali sem que aquilo se distancie demasiadamente do ponto de partida. Quero que, quando pinto uma mulher, você reconheça que aquilo é uma mulher, não um cão, mas, ao mesmo tempo, quero que as marcas que ali estão te indiquem que aquilo é tinta arrumada sobre uma tela. Ou seja, o trabalho de um homem e não de uma máquina.

Cabeça#7, óleo sobre tela, 100x100cm, 2013. |
Árvores (tríptico), óleo sobre foamboard, 100x70cm (cada), 2013. |
Interzona: Ainda com a fotografia... Barthes diz que o referente da fotografia não é o mesmo que o dos outros sistemas de representação. Ele chama de “referente fotográfico” não a coisa facultativamente real a que remete uma imagem ou um signo, mas a coisa necessariamente real que foi colocada diante da objetiva, sem a qual não haveria fotografia. A pintura pode simular a realidade sem tê-la visto. O discurso combina signos que são, na maior parte das vezes, quimeras. Na fotografia, jamais se pode negar que a coisa esteve lá, realidade e passado. Insistindo, sua pintura tem mais realidade e passado do que simulação? Sua pintura é “a imagem viva de uma coisa morta”?
Anderson Santos: Minha pintura é uma imagem viva de uma ideia.

Bina, óleo sobre tela, 10x15cm, 2011 (coleção particular Salvador). |

Loui, óleo sobre tela, 30x40cm, 2008.
Anderson Santos é pintor e desenhista; bacharelou-se em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes (EBA/UFBA) em 1999; trabalha desde então realizando uma pintura figurativa realista, por meio de técnicas tais como óleo sobre tela, cartão ou madeira e desenho, grafite ou carvão sobre papel. Realizou também experimentos em vídeo; cartazes e storyboards para cinema. Atualmente é membro de um coletivo internacional responsável pela publicação da revista online Boardilla (http://issuu.com/boardilla).
Exposições selecionadas:
Circuito das Artes Triangulações – Museu Nacional da República - Brasília-DF – 2013
Em Repouso – Centro Cultural Plataforma – Salvador-BA
Dissonâncias – Galeria Cañizares – Salvador-BA – 2013
Circuito das Artes Triangulações – Galeria ACBEU- Salvador – BA – 2013
Bienal do Recôncavo – Centro Cultural Dannemann – São Félix – BA – 2012
Artigo Rio – Centro de Convenções SulAmérica – Rio de Janeiro– RJ – 2012
Paraconsistentes – ICBA – Salvador – BA – 2012
Arte Pará – (premiado com o 2º Grande Prêmio) – Museu Histórico do Estado do Pará – Belém/PA – 2011
Em Trânsito – Galeria Cañizares – Salvador- BA – 2011
Texturas – Galeria ACBEU – Salvador- BA – 2011
Bienal do Recôncavo – Centro Cultural Dannemann – São Félix – BA – 2010/11
Coletiva Bentevi – NAVE – Recife/PE – 2010
2234 – Casarão Santo Antônio – Salvador/BA – 2009
Desenho Novo - Galeria ACBEU – Salvador/BA – 2009
Viver com Arte – Galpão 5 – Salvador/BA – 2009
Bienal do Recôncavo – Centro Cultural Dannemann – São Félix – BA – 2009/10
VI Mercado Cultural – Galeria da Cidade – Salvador – BA – 2005
Bienal do Recôncavo – Centro Cultural Dannemann – São Félix – BA – 2005
V Mercado Cultural – Conjunto Cultural da Caixa – Salvador – BA – 2003
Art for sale – Galeria ACBEU – Salvador – BA – 2003
AS (Bromazepan 18mg) – Theatro XVIII – Salvador – BA – 2003
IV Bienal do Recôncavo – Centro Cultural Dannemann – São Félix – BA – 2003
Santa Ceia – Theatro XVIII – Salvador – BA – 2002
Coletiva – Tallergaleria – Barcelona – Espanha – 2002
Otimismo – Aliança Francesa – Salvador – BA – 2002 |
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